09.06.2010 - Veja - Sérgio Martins - A alegria dos pais

Depois da tristonha onda “emo”, o happy rock toma a cena brasileira com uma música ensolarada e sem compromisso. E, sobretudo, muito bem-comportada.

Estão saindo de cena a indumentária escura, a maquiagem pesada e as músicas lamurientas dos “emos”, aqueles adolescentes que se divertem sentindo-se tristonhos. Há cerca de um ano, o cenário pop brasileiro vem sendo tomado por roupas de cores extravagantes e canções animadinhas sobre baladas, namoros e shopping centers. Alternativa ensolarada ao chororô de NXZero e Fresno, essa nova vertente capitaneada por bandas como Restart e Cine, atende pelo nome singelo de happy rock.

“O emo briga com a namorada e fica triste. A gente rompe o namoro e, beleza, a vida continua”, diz PeLu, guitarrista do Restart. Não é só a melancolia que foi proscrita: a ancestral rebeldia do rock também se foi. Os músicos de happy rock são o orgulho de papais e mamães.

Formado por quatro paulistas de classe média, com idades entre 18 e 19 anos, o Restart é a ponta-de-lança do happy rock. Os meninos alugaram uma casa de shows em São Paulo e criaram a festa Happy Rock Sunday, da qual surgiu o nome do, vá lá, movimento. É uma festinha vespertina das mais comportadas: os pais são convidados a participar. O disco de estreia do Restart, lançado há três meses, já contabiliza 20.000 cópias vendidas. Uma sessão de autógrafos do disco, em São Paulo, teve de ser cancelada por causa da multidão de fãs – na maioria garotas de 12 a 15 anos – na porta da loja. Frustrada, uma delas soltou uns palavrões em uma frase sem pé nem cabeça que virou mania no YouTube. “A gente já se desculpou com a menina, e ela até subiu no palco de um dos nossos shows”, diz o cantor e baixista Pe Lanza. Ao contrário de seus amigos do Restart, o quinteto Cine não gosta muito do rótulo happy rock.

“Na primeira vez que nos chamaram assim, pensei que fosso rap rock”, diz DH, o vocalista. Entre as referências do Cine, que gosta de brincar com timbres eletrônicos, estão bandas dos anos 80 como o New Order – que foi apresentado aos meninos por seus pais.

O rock há muito deixou de ser a música que os pais detestam (o rap faz esse papel hoje). E no Brasil, depois da morte de Renato Russo, em 1996, a contestação ficou relegada a artistas desarticulados como Pitty. O happy rock abraça esse estado de coisas com – o que mais poderia ser? – alegria. Resta saber se ela vai durar. A exemplo de Menudo e ‘NSync, grupos assim, cheios de meninos sorridentes, rapidamente deixam de ser fonte de felicidade: basta as fãs crescerem um pouquinho e pronto – eles logo viram motivo é de vergonha.

« voltar