16.10.2009 - O Globo - País - P. 15 - Mauro Ventura e Érica Ribeiro - Aplausos para o vale-cultura. Artistas, produtores e entidades empresariais elogiam a aprovação do programa.

A aprovação do vale-cultura, anteontem, pelo plenário da Câmara dos Deputados, foi elogiada pela classe artística e também por entidades que representem a indústria e o comércio.

- Talvez seja a iniciativa mais importante do governo Lula para a cultura - disse Eduardo Barata, presidente da Associação de Produtores de Teatro do Rio (APTR). - É quase como um novo fomento. Talvez seja a possibilidade de se libertar dos patrocínios e viver da bilheteria.

A decisão favorável também teve a aprovação de Mariza Leão, que produziu filmes como "Meu nome não é Johnny".

- É espetacular. Se a ponta da produção recebe incentivos, a do consumo deve merecê-los também - diz ela, esperando que o vale-cultura motive o setor a investir também na ponta da distribuição, aumentando o número de salas de cinema, teatros, casas de espetáculos e livrarias.

O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil tocou no mesmo ponto:

- O papel do subsídio à produção é importante, mas também devemos subsidiar o consumo, o que o vale-cultura vai fazer.

Artistas e produtores esperam a chegada de um público hoje alijado no mercado consumidor cultural.

- O vale-cultura é muitíssimo importante porque vai dar a um público carente a possibilidade de ele selecionar o que quer ver e fazer. Dá livre-arbítrio para ele escolher. Isso é mais democrático – observa o ator e produtor Marco Nanini.

- E possibilitará a formação de platéia.

O produtor Luiz Carlos Barreto diz a vitória é “motivo de regozijo”, mas critica o valor do vale, de R$ 50 mensais:

- Considerávamos, e o próprio Lula concordava, esse limite muito baixo. O presidente disse que ia pedir o aumento desse teto. E achamos que deveria ser eliminada essa contribuição, por parte do trabalhador, de até 10 por cento do valor do vale.

Para Claudia Ramalho, gerente de cultura do SESI – braço social da Confederação Nacional da Indústria (CNI) –, o programa é importante por transferir recursos públicos para o acesso à cultura.

- Acredito que a iniciativa dará uma guinada importante na política cultural do país, colocando a cultura como necessidade básica. Para as empresas, além do incentivo fiscal, é também um caminho para que muitas invistam em cultura – disse Claudia, acrescentando que o valor mensal de R$ 50 é razoável para o começo do projeto.

O diretor executivo da Fecomércio/SP, Antonio Carlos Borges, acha o projeto eficaz e diz que ele trará efeitos para produtores culturais, trabalhadores – garantindo acesso à cultura por pessoas cuja renda não permite gastos com atividades culturais –, e empresas. A gerente de cultura e arte do Sistema FIRJAN, Fabiana Scherer, disse que o mais importante é tornar a iniciativa um meio de acesso à cultura por parte da população e não apenas um instrumento burocrático:

- Nossa contribuição será dar suporte a empresas para que esse acesso seja garantido da melhor maneira. O importante é não tornar a ação unicamente burocrática e sim garantir o acesso à cultura por meio desse instrumento.

Andrea Alves, da produtora Sarau, concorda:

- Vai atingir outro público, que a gente está procurando. Vamos renovar plateia, trazer a outra fatia de público que normalmente não tem acesso.

E não é só a porção mais baixa da pirâmide social que vai se beneficiar.

- Possibilita para a população de classe média voltar a freqüentar as salas de teatro, diz Barata, da APTR.

Para o músico Jacques Morelenbaum, toda a sociedade ganha:

- Ao permitir que trabalhadores tenham mais acesso à cultura, vamos contribuir para o crescimento das pessoas, aprimorar a mão-de-obra do país.

O músico João Donato elogia a chance de que mais brasileiros possam consumir cultura, mas faz uma ressalva:

- Tem que se criar um esquema de valorização da cultura brasileira, se não vão pegar esses vales e continuar indo aos shows de sertanejo, axé...

A cantora Joyce citou os Titãs:

- A gente não quer só comida, quer comida, diversão e arte!

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