13.07.2009 - O Globo Digital - P. 8 e 9 - Eduardo Almeida - Caminho das pedras para o sucesso

Se tem um cara que entendeu a internet, esse cara se chama Trent Reznor. Respondendo aos críticos e mostrando que é um sujeito legal, o líder do Nine Inch Nails publicou em seu blog um tutorial com os passos necessários para um artista se lançar na web. O recado é direto: hoje, o papel do artista independente requer o domínio de ferramentas de comunicação online. Se você não tem essa experiência, arrume alguém que tenha e peça ajuda.

O lançamento do álbum "Slip", em 2008, com direito a download gratuito, garantiu a Reznor o prêmio de Artista do Ano no Webby Awards. Segundo o júri, “ao disponibilizar sua música gratuitamente, Trent Reznor abraçou o verdadeiro espírito de abertura da internet”. Além disso, ele foi elogiado também por sua “habilidade de se conectar com os fãs mais distantes através da web”, que o torna um “qualificado embaixador da cultura online”.

O post de semana passada foi inspirado em críticas que ele recebeu ao elogiar a iniciativa dos Beastie Boys, que criaram uma loja online em parceria com a TopSpin Media para vender sua música pela web.

A illcommunication.beastie-boys.com vende as canções do grupo de hip hop em todos os formatos possíveis, de mp3 a versões de luxo dos LPs. Muitos argumentaram que essa estratégia só funciona para artistas com carreira estabelecida.

Reznor ressalta que, se o seu objetivo é se tornar uma superestrela, o caminho ainda é a peneira das grandes gravadoras, com todas as concessões financeiras e artísticas que isto envolve. Mas se a intenção é trilhar seu próprio caminho, “desista de ganhar dinheiro com discos”.

A primeira dica é: grave seu próprio material com a melhor qualidade possível e disponibilize-o GRATUITAMENTE. Essa é melhor forma de ser ouvido pelo maior número de pessoas possível – fora do esquema arrasa-quarteirão das majors.

Para Reznor, é preciso aceitar que a sua música será distribuída gratuitamente de qualquer forma, então é melhor que isso seja feito por você mesmo. Ao tomar as rédeas do negócio é possível coletar informações sobre o seu público, “criando um banco de dados de consumidores potenciais”.

A partir daí, pode-se vender edições limitadas e pacotes especiais de seu material, como os Beastie Boys fazem em seu novo site. Como criar pacotes especiais? Diz aí Reznor: “Faça-os à mão, assine-os, torne-os únicos; algo que VOCÊ gostaria de ganhar se fosse um fã”.

Fora do terreno da música esse modelo já é testado por alguns artistas. O cartunista André “Malvados” Dahmer vende vários produtos inspirados em seus personagens em www.malvados.com.br. De camisetas e cinzeiros até pinturas originais.

- A PagSeguro, do UOL, fornece o sistema e minha esposa gerencia as entregas e todo o movimento do dinheiro – conta Dahmer.

Para a distribuição é preciso arrumar uma parceira – como a TopSpin ou a Amazon – ou criar seu próprio site. Reznor indica o TuneCore, que distribui o material para diversas lojas online (iTunes, Amazon, Rhapsody etc.) sem cobrar royalties (apenas uma taxa anual de armazenamento).

E já que a sua plataforma de lançamento é a web, tenha uma presença online forte. É preciso ter mais que o MySpace, que “está morrendo e passa uma ideia de grupo barato ou genérico”.

Nessa área, Reznor demonstra noções sofisticadas de como se construir uma boa página na web: “Retire todo o Flash do seu site, todas as introduções estúpidas que o tornam lento. Faça com que ele tenha navegação simples e seja fácil ouvir as músicas (mas sem autoplay). Atualize-o constantemente com fotos, postagens no blog, qualquer coisa. Dê um motivo para as pessoas voltarem. Crie uma comunidade. Faça vídeos baratos. Filme você mesmo falando. Toque no ar. Tenha uma conta no Twitter. Seja interessante. Seja real”.

A web 2.0 trouxe uma infinidade de ferramentas de publicação de conteúdo a custo quase zero: Flickr, YouTube, Vimeo, SoundCloud, Twitter etc. Use-as.

O mais importante, no entanto, é ser realista em relação a o que você pode esperar do seu produto. E, claro, fazer boa música.

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