26.10.2005 - Carta Capital - Cultura - Os EUA contra todos na UNESCO.

Um novo tratado defende o conceito de diversidade cultural diante da hegemonia americana.

Apesar do boicote americano, as reuniões da 33ª Conferência Geral da Unesco terminaram com um “sim” para o tratado que defende a diversidade cultural. Foram 151 votos a favor e dois contra – dos Estados Unidos e de Israel. Líderes do projeto, França e Canadá querem assegurar, no papel, o direito de um governo promover e proteger os bens culturais da competição internacional. No caso, a hegemonia americana.

Com o aval da Unesco, um país pode, por exemplo, cobrar taxas sobre filmes estrangeiros sem ser acusado de violar regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas, na opinião de alguns especialistas, para que o texto tivesse força, seria importante o consenso. E isso os EUA bloquearam – não sem mal-estar.

Como escreveu o jornalista Alan Riding, no New York Times, “até recentemente, as diferenças se resumiam a frases diplomáticas obscuras. Mas conforme se aproximou a votação, as negociações se tornaram mais ácidas, a disputa assumiu significado político e até levantou dúvidas sobre o papel dos EUA na Unesco”.

Se os americanos compraram a briga é porque o entretenimento é o segundo produto de exportação mais importante para o país. Perde apenas para a indústria bélica. E o principal temor dos EUA é o de que a Convenção abra brechas para a criação de barreiras à produção hollywoodiana.

Os americanos temem a Convenção e quem lutou por ela teme a fragilidade do documento. Apesar dos discursos animados, os defensores do tratado não estão certos de que terão força para colocar seus princípios em prática. Mas, pelo menos, passa a existir um novo parâmetro para medir as regras que regem a cultura.

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