20.07.2005 - O Globo - Segundo Caderno - P. 2 - Falta de atrações em exposição no município.

Castelinho do Flamengo e Centro de Artes Hélio Oiticica pouco ou nada têm a oferecer ao público atualmente.

A postos no saguão do Castelinho do Flamengo, onde desde 1992 funciona o Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, o guarda Ricardo Santos recebe com simpatia os visitantes. Apontando para a frente e depois para o lado, ele informa:

— Nesta sala, estão panfletos e revistas. Naquela, fica a videoteca. Pode escolher um filme do nosso catálogo e vê-lo numa cabine. É de graça.

A recepção deixa de ser animadora, contudo, quando o visitante descobre se tratar da tour completa. E os andares superiores, indicados pelas placas “2o. piso: Sala de exposições” e “3o. piso: Espaço alternativo”?

— Se quiser subir para conhecer a arquitetura do castelinho, fique à vontade. Mas as salas estão vazias — adverte o guarda.

A franqueza de Santos é compartilhada pelos telefonistas do Centro de Artes Hélio Oiticica, também administrado pela prefeitura, no Centro.

— No dia 20 de agosto, será inaugurada uma exposição. Antes disso, nem adianta vir, porque o centro está fechado — esclareciam os telefonistas de plantão na quinta e na sexta-feira da última semana.

Não é o que diz o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira. Segundo ele, o casarão só é fechado às segundas-feiras. Equívoco dos telefonistas? Aparentemente sim, a julgar pelas quatro espectadoras enfileiradas na lateral do prédio na tarde de sexta. Mas as aparências enganam. Rodando suas bolsinhas perto dos portões fechados a cadeado, elas aguardavam outro tipo de programa.

A partir de dia 20 de agosto, espera-se que a freqüência melhore com a abertura da exposição “Cosmococas”, com cinco obras inéditas do falecido artista homenageado pelo centro. O vazio atual, explica Macieira, deve-se a um convênio feito com o Museu de Houston para restaurar grande parte do legado de Oiticica. O secretário conta que o amplo terceiro andar está reservado para uma exposição permanente desse acervo. Reservado desde a sua inauguração, em 1996, aliás.

— Sempre lutei para que o terceiro piso abrigasse uma retrospectiva permanente, desde a inauguração da casa. Agora isso poderá se concretizar. O diretor, Luciano Figueiredo, listou uma grande quantidade de obras e cerca de 60% delas foram enviadas para Houston, no meio do ano passado, para restauração. Quando elas retornarem, faremos uma exposição permanente em que algumas peças serão trocadas a cada dois ou três meses. Enquanto isso, haverá outras, como a “Cosmococas” — anuncia o secretário.

Família do artista chegou a retomar o acervo de Hélio.

Em janeiro de 2002, a família de Oiticica chegou a retirar o acervo do artista do centro, alegando não haver ali condições básicas para a sua manutenção. Hoje, a relação entre eles e a prefeitura está bem melhor, garante um dos responsáveis pelo espólio de Hélio, o irmão César Oiticica. Mas ele dá uma explicação diferente para a subutilização daquele espaço.

— As obras que foram para Houston são da fase até 1960 do Hélio. As posteriores, em melhor estado, poderiam ser expostas. Acho que o problema é dinheiro. Exposição custa caro e não adianta manter sempre as mesmas peças, pois o público perde o interesse. Mas o centro conta com uma programação. Depois de “Cosmococas”, haverá uma exposição de fotos de José Oiticica Filho, pai do Hélio, e, no ano que vem, haverá uma de penetráveis inéditos do Hélio — comenta.

Aficionados por artes plásticas podem esquecer o Castelinho do Flamengo. Apesar de ainda ostentar uma placa de “Sala de exposições”, o secretário das Culturas tem planos diferentes para o prédio gótico-barroco-neoclássico construído entre 1916 e 1918.

— A falta de atividades no Castelinho é algo que me incomoda muito, mas isso está para mudar. A sua vocação não é para abrigar esculturas, pois a estrutura é frágil e não as suporta, nem pinturas, pois não dá para esburacar paredes — explica Macieira.

O que resta então? O secretário já tem a resposta:

— Em cerca de 45 dias, vai chegar lá um novo equipamento de DVD, televisão e computadores (hoje os filmes do acervo são em VHS). O Castelinho vai abrigar também uma série de debates, que se iniciaram já neste mês. Os andares superiores serão ocupados por eles.

Como ainda não há cartazes na fachada anunciando as atividades, a freqüência do prédio se limita a curiosos que passam pela área. É o caso do estudante Max Hinden, de 19 anos.

— Estava passando em frente, vi as portas abertas e resolvi entrar. Nem sabia o que funcionava aqui. É um centro cultural, é? — indagava. — gostei dos vídeos gratuitos.

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