19.06.2005 - O Globo - Primeiro Caderno - País - P. 17 - Rodrigo França Taves - Instituto de Resseguros do Brasil, Eletrobrás e Petrobras patrocinaram reforma com R$ 1,1 milhão.

Dinheiro para obras, admiração eterna. Padre reza por Roberto Jefferson, que conseguiu em estatais os recursos empregados na restauração da Catedral de Petrópolis.

Se o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) enfrenta seu inferno astral em Brasília, está no céu para a cúpula da Igreja Católica em Petrópolis. Há seis anos, a Mitra Diocesana tinha contratado uma empresa de promoções culturais com o objetivo de tentar obter patrocínio para a restauração da Catedral de São Pedro de Alcântara. E nada de conseguir o dinheiro. Bastou o padre José Augusto Carneiro, pároco da Catedral, recorrer a Jefferson que os R$ 1,1 milhão necessários para a obra apareceram em três meses.

Tudo doação de estatais onde o PTB de Jefferson tinha poder e influência: o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) doou R$ 570.800; a Eletrobrás, R$ 280 mil; e a Petrobras, R$ 285 mil . Com sua influência junto ao governo, Jefferson também conseguiu a aprovação em tempo recorde do patrocínio no Ministério da Cultura, pela lei de incentivos fiscais, e do projeto de restauração no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A obra foi inaugurada com pompa em setembro de 2004 e agora nem o escândalo de corrupção nos Correios nem a confissão de Jefferson de que recebeu uma mala com R$ 4 milhões durante a última campanha eleitoral são capazes de abalar a reputação que o deputado tem junto aos religiosos de sua cidade natal:

– Lamento o que está acontecendo porque ele é uma pessoa de muitos valores. É um amigo por quem rezo todo dia e por quem torço muito – diz o padre José Augusto, conhecido como padre Jac.

No auge da crise, o pároco da Catedral já ligou duas vezes para confortar Jefferson em Brasília – uma delas no dia do depoimento no Conselho de Ética. Os dois rezaram juntos e o padre ouviu Jefferson dizer, com a voz embargada, que vai até o fim em suas denúncias.

– Ele está servindo para passar o Brasil a limpo. Os pontos errados não cabe a mim apontar, mas ele está sendo um homem de coragem e fibra – insiste padre Jac.

A restauração da Catedral foi inaugurada na presença de Jefferson e do bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro. Padre Marcelo Rossi fez um de seus concorridos shows e os diretores das estatais receberam de presente réplicas em miniatura da Catedral. Foram corrigidas infiltrações no telhado e rachaduras nos pináculos da igreja. Os sinos foram consertados.

O problema é que a restauração do órgão da igreja, prevista no orçamento inicial, não foi executada. Segundo a Mitra Diocesana, o dinheiro foi gasto em problemas imprevistos na restauração. Na festa de inauguração, Jefferson prometeu mais R$ 300 mil para recuperar o órgão, que não toca há 25 anos. Mas agora, como o deputado virou adversário do governo Lula, a Mitra já sabe que a fonte secou e está tentando obter o dinheiro de outras formas. Nada que abale a eterna gratidão:

– Jefferson ajudou honestamente. Nunca chegou mala de dinheiro para pagar a obra da igreja. Preocupo-me mais com a salvação da alma que da carreira política, mas se ele perder a carreira vou lamentar muito – diz padre Jac.

Ele até admite que Jefferson possa ter cometido pecados em sua atuação política, mas diz que sua obrigação é confortar o deputado e mostrar que o mecenas das obras na Catedral “não está sozinho”.

– Se ele tiver errado diante de Deus, que se recupere; se for inocente, que possa provar sua inocência. Que seja feita justiça, mas com misericórdia. Muitas vezes não se faz justiça mas vingança.

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