17.01.2014 - O Dia - Adriana Cruz - Enredo policial na Mangueira novamente. Ivo Meirelles é acusado de ter pago propina a funcionário público, em 2011, para liberação de R$ 4,9 milhões para o Carnaval de 2012.

A história da Estação Primeira de Mangueira, escola cotada para resgatar neste ano os tempos de glória na Sapucaí, volta a trilhar o caminho da polícia. A investigação é sobre pagamento de propina de Ivo Meirelles, ex-presidente da agremiação, a funcionário do Ministério da Cultura (MinC), em novembro de 2011, para liberação da verba de R$ 4,9 milhões para o Carnaval de 2012. O projeto foi aprovado, apesar da inadimplência da escola com a prestação de contas, exigida pela Lei Rouanet, mas o dinheiro não chegou a ser captado. O Ministério Público Federal (MPF) determinou abertura de inquérito na Polícia Federal (PF) para apurar a prática de crime de corrupção.

A revelação do esquema foi feita por Ivo em gravação telefônica, autorizada pela Justiça no dia 11 de novembro de 2011, ao responsável à época pela Vila Olímpica e atual presidente da Verde e Rosa, o deputado estadual Francisco Carvalho (PMN), o Chiquinho da Mangueira. Nos diálogos aos quais O DIA teve acesso com exclusividade, Ivo conta que, para resolver a inadimplência da escola, estaria pagando propina. O procurador da República Carlos Aguiar requisitou à PF que tome o depoimento tanto de Ivo quanto de Chiquinho da Mangueira; que sejam analisados os documentos enviados ao MinC, e as gravações telefônicas do inquérito da 17ª DP (São Cristovão), encaminhadas ao Ministério Público do estado.

O pedido do MPF foi feito em 6 de setembro do ano passado ao superintendente da Polícia Federal, Roberto Mário da Cunha Cordeiro. Procurada, a PF não deu detalhes sobre os rumos do caso. “Quem falou sobre propina foi o Ivo. Sempre disse a ele que a Mangueira tinha que resolver as suas pendências de forma legal”, afirmou Chiquinho da Mangueira. O deputado garantiu que ainda não recebeu a convocação para ser ouvido no inquérito da PF. “Mas gostaria de deixar claro que estou à disposição. Vou com o maior prazer”, afirmou.

Em outro trecho de conversa telefônica, com homem ainda não identificado pela polícia, Ivo conta mais detalhes sobre o esquema de propina. Gaba-se ainda que ‘conseguiria o que ninguém consegue’. Ele assegura que, para garantir a aprovação do pedido de verba ao Ministério da Cultura, havia feito reunião em escritório de advocacia em São Paulo. Depois disso, o advogado teria ido direto a Brasília para conseguir a liberação do projeto. Procurado pelo DIA , Ivo não foi localizado até o fechamento desta edição.

Uma gestão cheia de turbulência

À frente da presidência da Mangueira, Ivo Meirelles teve gestão turbulenta. Ele foi indiciado em inquérito da 17ª DP (São Cristovão) por associação para o tráfico, como O DIA publicou em 2012. O caso está no Ministério Público do Estado do Rio (MPE).

O pedido do MPF foi feito em 6 de setembro do ano passado ao superintendente da Polícia Federa. A investigação começou com denúncia de que Ivo teria se aliado aos traficantes Alexander Mendes da Silva, o Polegar, e Vinícius da Lima Pereira, o Chevette, para garantir apoio político. Em troca, ele arrecadaria, por mês, R$ 150 mil para sustentar criminosos presos.

O MPE vasculha 54 contas da Mangueira e seis de Ivo, para investigar possíveis desvios de verba da escola. A última eleição para a presidência foi acompanhada pela Justiça. Ameaças de morte e interferência de traficantes foram temas constantes na administração.

As gravações

Diálogo entre Ivo e Chiquinho da Mangueira:

Ivo : Quando você fala que vai pegar seis, quando vai pegar seis mil pra pagar o Casa Lar, com todo respeito, é o pingo, é pingo do oceano. Entendeu?

Chiquinho : Ivo, só pra você ter ideia, se somar dá mais de R$ 200 mil.

Ivo : Agora, você não sabe o que que eu tô fazendo. Eu acabei de autorizar hoje, autorizar não, acabei de inscrever hoje no Ministério da Cultura em Brasília o projeto do Carnaval 2012, pra tentar arrumar alguma coisa, pagando propina por fora porque a Mangueira tá inadimplente. ‘Cê’ sabe que tá inadimplente. ‘Tô’ te falando, a partir de segunda-feira, seu Alvim, seu Perci, dona Chininha. A partir de segunda-feira tá todo mundo sendo notificado pelo Ministério da Cultura e pelos nossos advogados.

Diálogo entre Ivo e homem não identificado:

Ivo : O cara do escritório lá em São Paulo é pica das galáxias e foi direto no Ministério da Cultura. Fiz reunião a semana passada com o cara direto, o cara que libera os projetos. Sacou?

Homem: Sim.

Ivo: Vamos dizer que, pô, apesar de ‘tá’ inadimplente, conseguiu isso que ninguém consegue. Nego vai ficar de queixo caído.

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