15.02.2011 - O Globo - Digital & Mídia - P. 23 - Nelson Vasconcelos - McLuhan na ativa.

O canadense Marshall McLuhan certamente estaria se divertindo com a permanente e já velha discussão sobre o futuro da indústria da mídia em tempos de internet. Foi ele o primeiro sujeito a declarar, por exemplo, que "o usuário é o conteúdo" - como bem sabem os sites hoje. E escreveu isso há mais de 40 anos, bem antes de a internet existir tal qual a conhecemos.

McLuhan morreu em 1980. Voltar a ele neste momento tem tudo a ver, não só porque a situação obriga, como também porque estamos no ano em que se comemora seu centenário de nascimento. Data nobre.

De tempos em tempos, seus livros, seus livros voltam a ser discutidos - embora estejam longe de ser leitura fácil. São herméticos, e a gente finge que os entende. Ou só os entende quando são filtrados por gente como Douglas Coupland, que acaba de lançar lá fora "Marshall McLuhan: You know nothing of my work!". ("Você não sabe nada sobre meu trabalho"), ainda sem perspectiva de ser publicado aqui.

É uma pequena biografia do professor canadense, ótima distração para quem está de molho ou fugindo do calor - ou ambos. Douglas Coupland é romancista, habilidade que poderia ter deixado de lado em alguns trechos do livro, que só tem 200 páginas. Mas vá lá. Por trazer de volta o fantasma do McLuhan está valendo a encomenda.

O canadense costumava dizer que moldamos as ferramentas e, em seguida, elas nos moldam. As pessoas, no fim das contas, são reinventadas pelas tecnologias.

Tudo a ver com nossa dependência da internet, ou não? A ver também com nossa relação com a informação e com o entretenimento (se é que existe diferença entre essas duas coisas). Ou, ainda, com o jeito com que a Wikipedia modificou as pesquisas escolares das crianças... E as redes sociais? E o jeitão colaborativo da internet, que está modificando as relações de trabalho?

Esse McLuhan, por mais que fosse meio maluco, ainda vai longe. Mesmo com suas idiossincrasias, ele só queria que a humanidade fosse um pouco melhor, ao entender como a mídia a influencia. E vice-versa.

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