20/05/1998 - Veja - Cultura - Glória vã - Celso Masson.

O autor indaga sobre o real papel de alguns prêmios oferecidos a artistas no Brasil, fixando-se sobre a desgastada cerimônia de entrega do Prêmio SHARP edição de 1998. Trechos: “Para que serve um prêmio artístico ? . . . existem no Brasil vários prêmios destinados a iniciantes que, sem ter a visibilidade do Sundance (festival americano que dá a um roteirista iniciante verba para começar a produzir seu próprio fime - Walter Salles deu o pontapé inicial em Central do Brasil graças a este prêmio), cumprem sua função. Já aqueles atribuídos a artistas consagrados não têm importância alguma. Não ajudam ninguém a vender livro ou disco, nem fazem um artista mudar de patamar ".

“Porque prêmios como o Sharp, que não servem para nada, são desprezados pelos próprios artistas. Para quê serve um prêmio artístico ? Em que ele pode ajudar a cultura de um país ? Existem dois tipos de prêmio. O primeiro é aquele atribuído a um artista consagrado. São os casos do Oscar e do Pulitzer . . . há também os prêmios destinados a revelar novos talentos, como o do festival de Sundance . . . uma amostra de como os prêmios brasileiros são desprezados pelos próprios artistas deu-se na entrega do Prêmio Sharp, na quarta-feira passada, no Rio de Janeiro. A apresentadora Hebe Camargo, encarregada de anunciar os premiados, chegou a ficar constrangida, tantas foram as ausências’’.

“Por que isso ocorre ? É simples: os prêmios não têm credibilidade. A falta de sutileza dos patrocinadores é um dos problemas. É sintomático que, no Brasil, vários prêmios polpudos dados a artistas tenham o nome de empresas. São os casos do Sharp e do Shell, ambos de música e teatro, e do Nestlé, de literatura. Tanto o público quanto os indicados sabem que se trata mais de um evento de marketing na contramão do que de uma premiação de peso. Ao contrário do que deveria acontecer, são os grandes nomes da MPB, do teatro ou da literatura que emprestam sua credibilidade à marca que dá nome ao prêmio”.

“Além da publicidade, as empresas abatem no imposto de renda o custo da festa e o dos prêmios - o Prêmio Sharp, por exemplo, conta com o benefício fiscal da Lei Rouanet, de incentivo à cultura”.

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