03/02/1999 - Jornal da Tarde - Variedades. Sonia Cristina Silva. Cultura vai receber 25% mais do governo

“O ministro Francisco Weffort anunciou que dividirá o orçamento de R$ 250 milhões entre quatro recém-criadas secretarias. Defendeu o papel educativo que a tevê deveria cumprir e a divulgação de clássicos da literatura brasileira. Em seu segundo mandato, o ministro da Cultura, francisco Weffort, está certo de que a crise não afetará o investimento em cultura. Ele anunciou o aumento de cerca de 25% do orçamento para o setor e calculou em R$ 250 milhões a aplicação global em projetos nesse ano. Ontem, a nova equipe do ministério tomou posse. Weffort admite a necessidade de estimular ainda mais a cultura e a educação, capazes, segundo ele, de preparar melhor o cidadão para enfrentar períodos de instabilidade econômica. Em entrevista exclusiva, o ministro elogiou a iniciativa do jornal O Estado de S. Paulos de permitir acesso ao leitor de obras clássicas da literatura a preços mais baratos e apelou para que também as televisões exerçam um papel mais educativo.

Jornal da Tarde - O que está mudando na estrutura do ministério e qual o objetivo da iniciativa ?

Francisco Weffort - As secretarias do ministério passam a ser definidas pelo segmento cultural ao qual se dedicam. Serão quatro secretarias, de audiovisual, de livro e leitura, de música, e uma de patrimônio, museu e artes plásticas. Estou querendo criar uma assessoria especial de artes cênicas. Essa estrutura é mais transparente e permite maior equilíbrio na análise de projetos.

JT - Falando em projetos, quanto o governo disporá este ano para investir em cultura ?

FW - Não temos os últimos detalhes do orçamento, mas neste ano temos um crescimento de algo perto de 25% em relação ao ano passado. Se somarmos o que é do orçamento direto com a dedução tributária, estaremos perto de R$ 500 milhões. Cerca de 50% disso é para investimento.

JT - Com a crise econômica no Brasil, surge a preocupação de que haja um recua do incentivo empresarial à cultura, apesar da dedução no Imposto de Renda.

FW - Esse receio existe sempre, porque as leis Rouanet e do Audiovisual são novas. Não obstante, o uso dessas leis tem aumentado. A crise afeta alguma coisa, mas não na proporção em que as pessoas imaginam. A minha expectativa é de que não haja recuo. Na medida em que a crise leva a um nível de competição mais acirrada, o marketing fica mais importante para a empresa.

JT - Quanto as empresas investiram no ano passado ?

FW - No ano passado, a dedução tributária somada chegou a algo perto de R$ 115 milhões, mas isso é a metade do investimento realmente feito, porque isto é dedução tributária. Não inclui o outro tanto que a empresa investe para realizar o projeto.

JT - Ainda sobre a crise, ministro, como a educação e a cultura podem preparar um povo para enfrentar esse tipo de situação ?

FW - A pessoa mais culta, mais educada, qualifica-se melhor para trabalhar e para exercer sua cidadania. Um sujeito com mais educação e cultura é mais capaz de disputar empregos em áreas diversas, uo seja, não fica amarrado a uma aprendizagem profissional restrita. Pode reciclar-se com mais rapidez.

JT - A cultura gera empregos ?

FW - Temos um pequeno estudo mostrando que a cada R$ 1 milhão investido em cultura, são gerados 160 empregos diretos e indiretos. O que o governo federal e os Estados e amunicípios aplicam é apenas 10% do “PIB da cultura”. A idéia é que a cultura só se desenvolve quando o governo põe dinheiro é errada. O governo só alavanca, empurra para frente. Estima-se que 550 mil pessoas estão trabalhando na cultura no Brasil, o que não é puco.

JT - Mas o brasileiro, em geral, é pobre, não tem tempo nem recursos para o acesso à cultura.

FW - É tempo de restaurarmos nas escolas o ensino de artes, de música. De estimular as festas religiosas e cívicas. É importante que pelo sistema escolar difundamos o talento do povo brasileiro. Aí se começa a criar um cidadão. Temos também que ampliar a distribuição de livros. O próprio jornal O Estado de S. Paulo aumenta sua tiragem entregando obras clássicas da literatura brasileira a um preço extremamente barato para o leitor. Isso é uma coisa importantíssima do ponto de vista da cultura brasileira. A televisão deve assumir as funções educativas e culturais que ele tem. É mentira dizer que o povo deseducado e inculto só aceita programas de baixa qualidade ”.

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