21.10.2005 - Folha de S. Paulo - Opinião - P. A2 - Nelson Motta - Gol de cabeça.

De Paris.

O que poderia ser melhor para a promoção do Brasil – de sua modernidade e diversidade, de sua potência econômica – do que um ano inteiro apresentando o melhor de sua arte e cultura num país rico e civilizado e que dá imenso valor à arte e à cultura?

O melhor da música, do cinema, do teatro, da dança, da arquitetura, da fotografia e das artes plásticas do Brasil ocupou espaços nobres na mídia e em prestigiadas salas de cultura e de espetáculos não só em Paris mas em inúmeras cidades da França com o tema “Brésil, Brésils” – a expressão artística de nossa diversidade étnica e cultural.

Foram centenas de eventos, uns melhores e outros piores, uns mais e outros menos aplaudidos, com artistas de todo o Brasil e dos mais variados estilos e gerações. Na música, foram tantos que é mais fácil saber quem não foi à França neste ano. Alguns provocaram grande impacto – como Lenine e o pianista Nelson Freire –, outros, como grupos regionais e folclóricos, passaram quase despercebidos. Ou entraram na ampla categoria do que os franceses chamam, meio divertidos, de “bizarre”.

Foi uma extraordinária chance de apresentarmos – através de nossa cultura – os nossos produtos agrícolas e industriais, as nossas oportunidades de negócios e a nossa inserção no mundo globalizado.

Nelson Rodrigues, Glauber Rocha, Hélio Oiticica, Rubem Fonseca e o que tínhamos de melhor para mostrar de nossas artes (que nem é tanto assim) foram vistos, ouvidos, lidos e discutidos. Fomos muito além de samba, futebol e mulatas.

Enfrentando dificuldades econômicas e burocráticas demenciais, o ministro Gilberto Gil conseguiu, aos 46 do segundo tempo, trocando passes com o Ministério da Cultura francês, marcar um belo gol – o maior de sua desprezada e despossuída pasta – de cabeça.

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