30/06/2000 - Valor Econômico - EU& fim de semana. Antônio Gonçalves Filho. Real dá as cartas na cultura. P. 4-6.

"Há alguns anos, quando se falava em censura, a imagem associada à prática era a de um militar mandando cortar filmes, proibindo peças ou retirando livros ‘subversivos’ das prateleiras. Mergulhado num obscurantismo medieval, o Brasil voltou à superfície, respirou, mas está novamente ameaçado por uma perigosa onda moralista. Desta vez, a censura não usa farda, mas terno. Fala educadamente, mas o resultado é o mesmo. Ou, pior: as peças e filmes nem mesmo chegam à fase de produção, porque a censura mudou de cara. É econômica. O dinheiro determina, hoje, o que deve ou não ser visto pela população brasileira, denunciam os produtores teatrais, ou seja, aqueles que ainda resistem ao banimento dos palcos".

". . . os empresários nem precisam de grupos de pressão . . . para censurar artistas. Eles mesmos decidem, com dinheiro público, quem deve ou não receber recursos provenientes de renúncia fiscal. Em outras palavras: a população paga os impostos e não pode ver os espetáculos que patrocinadores consideram inadequados ou prejudiciais para a imagem de suas empresas. Como denunciam os produtores teatrais, as leis de incentivo têm servido, paradoxalmente, para destruir a arte e promover um ‘genocídio’ cultural".

"Até mesmo alguns atores ‘globais’ encontram dificuldades para obter recursos".

"Elogiada por críticos como Macksen Luiz e Barbara Heliodora, a montagem brasileira de ‘Os Monólogos da Vagina’ sofreu o mesmo tipo de censura velada por parte dos potenciais patrocinadores, segundo o produtor Cássio de Souza. ‘Alguns empresários ficaram constrangidos com o título da peça e sugeriram uma troca, mas recusamos a proposta por entender que estamos camuflando a mensagem de Eve Ensler’, conta".

« voltar