26/05/2004 - Revista VEJA - S.M. - P.123 - O fã-investidor.

Como o Marillion financiou seu novo disco com o dinheiro dos admiradores.

“Numa futura história do rock, é provável que o Marillion não chegue a ganhar sequer uma nota de rodapé. O quarteto inglês nunca foi original musicalmente. Ele surgiu no começo dos anos 80 tocando rock progressivo – um estilo que já estava em coma – e ainda hoje continua nessa trilha. O grupo, no entanto, já fez por merecer um verbete na história dos negócios musicais. Ele inventou um curioso sistema para financiar seu trabalho. Funciona assim: por meio da internet, os fãs da banda compram antecipadamente, e por preço levemente acima da tabela, um disco que só ficará pronto dali a vários meses. Com o dinheiro na mão, os músicos passam então a cuidar da gravação, do marketing e da distribuição do CD. O Marillion lançou a idéia em meados do ano passado. Seus admiradores toparam bancá-lo e, no começo deste mês, ele entregou às lojas o seu novo álbum, Marbles. Como prêmio por sua confiança, os fãs-investidores receberam uma edição especial do disco, com um CD extra e um livreto de fotos. O Marillion, por sua vez, multiplicou várias vezes os seus ganhos com direitos autorais, já que não precisou contar com os serviços de uma grande gravadora. Além disso, como boa parte da tiragem já estava vendida antes mesmo de o disco existir, Marbles foi parar no topo da parada inglesa. O grupo não sentia esse gostinho desde 1985, quando a balada Kayleigh se transformaou num sucesso.

Em tempos bicudos para o mercado fonográfico, os medalhões pop têm se virado como podem para garantir seus rendimentos. Há sete anos, o cantor inglês David Bowie inventou um sistema de vendas de ações de seu repertório. Enquanto suas músicas antigas tocarem nas rádios e as coletâneas de sucessos forem bem nas lojas, as ações se manterão valorizadas. O americano Prince, por seu turno, criou uma venda casada de ingressos de sua nova turnê e de exemplares de seu novo disco, Musicology. A estratégia levou o CD ao terceiro posto na parada americana, mas parte do público chiou. Alguns casais que foram aos shows, por exemplo, reclamaram de ter de ficar com dois discos quando um só lhes bastava (e á claro que o preço do álbum está embutido no preço do ingresso). Diante desses dois exemplos, o modelo criado pelo Marillion chama atenção pela simplicidade e também por estar apoiado nos laços que já existem entre os artistas e seus fãs: quem adora a banda compra uma espécie de cota na produção de seu novo disco. “O que tem de artista veterano pedindo conselho para a gente não está escrito. Eles adoraram”, dia o tecladista do Marillion, Mark Kelly.

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