20/07/1999 - Revista da AMCHAM - Novelas made in Brazil - Norma Couri

“Novela é produto de exportação brasileiro dos mais importantes no processo de globalização. Telenovela vende a imagem do Brasil. Essa imagem é tão importante que acaba de ser inaugurado um canal internacional da TV Globo nos Estados Unidos. É um canal étnico dirigido às comunidades de língua portuguesa. Só nos Estados Unidos há 1,6 milhão de brasileiros, for a os ilegais. O canal vai transmitir simultaneamente para os 200 mil dekasseguis do Japão e para toda a América Latina”.

“O Brasil é um mito surrealista dos trópicos. Fica num lugar movido a melodramas, onde o impossível acontece e a central hollywoodiana fornece ilusões diárias, com hora marcada. Esse Brasil custa US$ 35 milhões aos 123 países que o consomem . . . cada capítulo desse Brasil tipo exportação custa US$ 90 mil e o produto tem mais de 200 capítulos . . . o que os compradores do mundo têm de engolir é o merchandising cada vez maior . . . deve ser isso que minimiza a diferença oceânica do custo final de uma novela de US$ 20 milhões pela bagatela que cada país paga em média por ela: US$ 285 mil”.

“É uma teledramaturgia mexicanizada, que às vezes empaca, como aconteceu há dez anos com Vale Tudo na Alemanha - fracasso total - e há seis anos com Renascer em Portugal: lá a história do homem que tem a pele costurada ao corpo com agulha e linha, depois de ter sido arrancada por um bando de jagunços, foi execrada. Há três anos a França pôs o dedo na ferida produzindo o documentário de 52 minutos “Telenovelas: Love, TV and Power”, dirigido pelo argentino Alexandre Valenti, que mostrava imagens de favelas e acusava as novelas de alienar os brasileiros. “No Brasil existem mais televisores que geladeiras”, avisava, “o brasileiro alimenta-se de fantasia” . . . criticadas pelos intelectuais, as emoções pasteurizadas das novelas são tábua de salvação para o cotidiano do público do mundo todo”.

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