16/06/1996 - O Globo - Boa Chance - Andréa Magalhães. Projetos em busca de mecenas. P. 1-2.

“Toma lá, dá cá; mas no melhor dos sentidos, é claro. Quem tem um bom projeto, mas não possui recursos para colocá-lo em prática, precisa mesmo é de um patrocínio vindo de uma empresa que queira investir na sua boa imagem institucional. Difícil ? Na maioria das vezes sim, mas que tal saber que empresas como a Coca-Cola e a Fleishmann Royal estão de braços abertos para acolher novos “afilhados” ? Sem dúvida, como garantem as pessoas que já conseguiram seus mecenas, é um estímulo. Ensinar o pulo do gato para conseguir um patrocinador ninguém ensina, mas como passo inicial é fundamental passar a idéia do projeto para o papel, da forma mais objetiva e simples possível; e, depois, correr atrás de quem possa estar disposto a abrir o caixa de sua empresa. Renato Kamp, consultor cultural e um dos autores do “Guia Prático para Apresentação de Projetos Culturais”, diz que é essencial que haja uma identificação entre o projeto e o perfil da instituição procurada: - Ninguém vai esperar que uma marca elitista patrocine um projeto voltado para o povão - ensina. O projeto também deverá ser persuasivo. Quem vai abrir seu cofre precisará ser convencido de que receberá benefícios em troca: - O empresário vai querer, no mínimo, promover a imagem institucional de sua companhia e tornar sua marca mais conhecida e consumida. Paulo Corrêa, diretor de assuntos estratégicos da Coca-Cola, diz que o perfil de seu patrocinado é o seguinte: inovador, de qualidade indiscutível e, mesmo assim, desconhecido do público, como a Festa do Boi-Bumbá de Parintins, no interior do Amazonas, que ocorrerá de 28 a 30 deste mês. Para este ano, ele informa que ainda tem disponível US$ 2 milhões para financiar projetos culturais de pequeno e médio portes, como exposições e livros . . . - O empresariado não pode negar seu compromisso com questões sociais. Por outro lado, seguindo uma visão mais de mercado, é óbvio que é muito bom para a imagem institucional da empresa que ela apareça como mecenas de um bom projeto. A médio prazo, o investimento certamente será traduzido em mais consumidores. Além disso, ainda há os incentivos fiscais com os quais ela poderá se beneficiar”.

“Outro autor do “Guia Prático para Apresentação de Projetos Culturais”, Antonio Leal salienta que, em relação a projetos culturais, o Governo oferece incentivos fiscais para as empresas patrocinadoras. Ele diz que, através da Lei Rouanet, o empresário patrocinador abate 62% do valor do projeto do Imposto de Renda de sua firma: - Dados do Ministério da Cultura mostram que até maio, a Lei Rouanet beneficiou 91 projetos. Foram desembolsados R$ 12 milhões, um recorde desde 1991. O filão do marketing cultural começa a estourar, e a hora para vender bons projetos é agora”.

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