08/07/1998 - Gazeta Mercantil - Nacional - O cinema brasileiro, agora, ganha dinheiro. Ismael Pfeifer.

“A recessão, o fim da Embrafilme e a ausência de qualquer espécie de incentivo e investimentos jogaram o setor às trevas por quatro anos, de 1990 a 1994. A ressurreição veio nas asas da Lei do Audiovisual e da economia estável . . . e foi da inventividade de uma diretora e produtora iniciante, Carla Camurati, que o cinema nacional aproveito-se para se redescobrir como um bom negócio. Carlota Joaquina (1995) foi um divisor de águas, feito ainda sem a ajuda das leis de incentivo. Teve custos relativamente baixos para os padrões brasileiros - R$ 620 mil - acumulou bilheteria de algo em torno de 1,3 milhões de espectadores, gerando renda de mais de R$ 5 milhões. 'Foi um presente na minha vida. Deu pra ganhar dinheiro', resume Carla, que esta semana está lançando seu novo filme, Serva Padrona, de custo ainda menor, R$ 330 mil . . . sua empresa, Branca Produções, ganhou mais dinheiro do que se podia imaginar. Dos R$ 5 milhões de bilheteria, algo como R$ 2,5 milhões ficaram com os produtores. Os gastos de distribuição e divulgação outros cerca de 20%. Aos R$ 2 milhões restantes, somaram-se a renda com venda de vídeos às locadoras (no caso do Carlota Joaquina, foram 17 mil cópias) e a cessão de direitos para exibição do filme em televisão. Com as leis de incentivo (principalmente a do Audiovisual), mesmo um filme cuja bilheteria perca dos custos de produção pode ser um bom negócio. A lei permite que qualquer empresa destine até 3% do imposto de renda devido à compra de cotas de produções nacionais, que podem ser financiadas em até 80% por esse tipo de captação. E, ao tornar-se sócia do filme, a empresa vai ter normalmente 30% sobre a renda líquida da parcela adquirida. 'O investidor só tem vantagens. É tão bom negócio que os empresários ficam até desconfiados', conta Vitor Moura Ferreira, diretor da Sagres, corretora de valores de São Paulo que trabalha hoje na captação de recursos para cerca de 20 filmes. Para beneficiar-se do sistema, o produtor precisa apresentar ao Ministério da Cultura o projeto do filme, com planilha detalhada de custos, incluindo pró-labore de diretores e produtores. Aprovado, cabe à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizar a operação de venda de títulos no mercado. Os direitos de participação do investidor duram cinco anos e incluem, além da bilheteria, a renda com venda de vídeos e direitos de exibição em TV”.

“O resultado das leis de incentivo é nítido. Em 1990 foram lançados apenas sete filmes no País. A partir de 1995, com a Lei do audiovisual, o número saltou para 12; subiu para 18 em 1996, e, no ano passado chegou aos 24".

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